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Archive for the ‘não-ficção’ Category

O livro veio de presente, numa caixa daquelas de encomendas dos Correios, endereçada a mim no jornal. A supresa foi um exemplar (deliciosamente vindo de sebo da Borges) do livro “O Diário de Anne Frank“. A sinopse acho que todo já estudou a Segunda Guerra Mundial conhece: Anne era uma menina judia de 13 anos, que tinha uma vida despreocupada e feliz em Amsterdã, capital da Holanda. Porém, a vida dela muda à medida em que a força de Hitler cresce, e ela e a família (e mais outra família, os Van Daan) são obrigados a se esconder. É lá que a menina narra suas angustias, dúvidas, brigas e inquietações, de uma maneira às vezes infantil, outras de uma clareza maior do que qualquer adulto.

não foi a primeira vez que tive contato com esse livro. Quando tinha uns 14 anos, havi a na casa de uma grande amiga (na verdade, minha melhor amiga na época da adolescência) um exemplar do livro – justamente da mesma edição que 14 anos depois fui ganhar de surpesa. Coincidência? Talvez. Mas o fato é que naquela época comecei a lê-lo. E sabe-se lá por que não acabei a leitura. Quem sabe não estava pronta para isso, ou faltou uma oportunidade. Nem entendo por que não pedi o livro emprestado – tinha achado interessante. Deve ter sido um daqueles arroubos de adolescência e minhas atenções podem ter se focado em outros livros e momentos.

O fato é que, em poucos dias, fui cúmplice de Anne e todas as suas doces bobices e alegrias. Fui sua companheira durante suas dúvidas, tristezas, seus momentos depressivos e sua precoce maturidade, atingida devido à dureza da guerra. Ri de alguns comentários típicos de adolescente (como somos bobos e fazemos dramas nessa idade!), mas as lágrimas só saíram no epílogo, quando realmente o final trágico- e conhecido – se cumpre. Assim como se cumpriu com muitas vítimas de uma guerra absurda e sem sentido.

há outro livro sobre relatos da Segunda Guerra que li, esse na faculdade, por conta de um fantástico e cativante professor de Filosofia chamado Luciano. O livro em questão é “Em Busca de Sentido“, de Viktor Frankl. Foi uma das aulas mais lindas que tive na Pucrs, inesquecível. Esse é um relato dos campos de concentração, de um psiquiatra que sobreviveu ao terror. Uma realidade que Anne também viveu, mas não teve oportunidade de sobreviver para relatar à sua amiga imaginária Kitty (a quem ela se dirige no diário).

dos Frank, somente o pai de Anne, Otto, sobreviveu. Dizem que o diário da jovem judia é uma fraude. há várias páginas na internet que levam a essas suposições. não sei se foi um relato verdadeiro ou não. e isso nem me interessa. o importante é o significado que esse livro teve (e tem) para todas as vítimas do nazismo.

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definitivamente. foi o primeiro livro do Zygmunt Bauman que li e me aterrorizou horrivelmente. Por quê? Simples. Tudo ali é exatamente como o mundo, as pessoas, o consumo, a vida está. Ele teorizou algo que no íntimo eu tinha percebido mas ainda não tinha racionalizado. Não totalmente – eram pensamentos que mais pareciam espasmos e observações do tipo “isso está errado” e “não deveria ser assim”. Uma sensação incômoda, como se eu não sentisse pertencer ao mundo, à vida em que vivo. Parece bizarro? Talvez. Mas se isso te faz sentido, é hora de ler Amor Líquido.

Esse livro mexeu muito comigo. Porque fala de amor. De um amor além do de um casal. Ele te leva até à xenofobia e ao combate a imigração de muitos países europeus. Incrível como o amor (ou melhor, a falta de) pode causar tanto estrago. Pessoas descartáveis como um lenço de papel. Você só me serve enquanto me proporcionar prazer em todos os sentidos. Mesmo assim, não me apego, pois há tantas possibilidades por aí a espera de uma chance de fornecer-me outros & novos & descartáveis prazeres e sensações. Não faz sentido ficar preso, ligado somente a uma relação/pessoa.

Não me apego o c.! Esse tipo de liquidez não serve para mim. E acredito que para ninguém, pois não conheço quem goste de se sentir usado. Tá, não posso falar pela maioria, parto do meu próprio e humilde umbigo. Mas acredito que há muita gente que concorde comigo. Até porque tenho visto tantas pessoas próximas totalmente desapontadas com o amor. Desistem. Ou melhor, ficam numa espécie de standy by, esperando que talvez a sorte e/ou o acaso e/ou o destino tragam alguém que acabe com esse estado de inércia. O problema é que parece que o amor líquido vai totalmente de encontro a isso. Isso me lembra uma cantiga de roda… “O anel que tu me destes era vidro e se quebrou…” Não, agora o anel não é mais de vidro, nem há anel, pois ele simboliza compromisso. E esse amor pós-moderno e líquido é avesso à estabilidade e compromissos.

A verdade que Bauman discorre é que o amor virou mais um objeto de consumo. Exatamente isso. E, como ele mesmo observa, o consumo está cada vez mais rápido, fácil e descartável. O acesso a ele é simples: o desejo de hoje é facilmente saciável, mas dura pouco tempo. E tem essa vida útil curta propositalmente. Enquanto isso, novos desejos surgem, mais necessidades são criadas, e precisamos desesperadamente consumir, consumir, consumir. Como gafanhotos numa plantação, só que a plantação nunca acaba porque sempre há novos horizontes à vista. Os publicitários são bons nisso. Se consumimos tudoe tão rapidamente por que, afinal, não consumiríamos uns aos outros? Não estaríamos seguindo a lógica da vida líquida.

Mas esse post é só a ponta do iceberg. Minha mente ainda está digerindo toda essa realidade triste e apavorante. Quero amigos que leiam algum texto do Bauman e estejam dispostos a realizar um sarau sociológico &literário para discutir essas idéias. Trocar figurinhas, impressões e experiências. Porque esse livro serviu para me revoltar. Quero nadar contra a correnteza, seguir o que sinto e acredito. Fez-me perceber que estou inserida nessa verdade, porém quero ter a opção de fazer diferente. Do meu jeito. Da maneira que creio ser o melhor caminho. E se houver alguém que também queira, então vamos acreditar juntos. Afinal, parafraseando Raulzito, sonho que se sonha junto é realidade.

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Ontem, totalmente sem nada para ver na tv, achei o filme Capote, com o brilhante e oscarizado Philip Seymour Hoffman. Como não gosto de ver filmes pela metade, então acabei apenas assistindo a uns poucos trechos em que Truman-Seymour aparece conversando com um dos bandidos responsáveis pelo assassinato da família Clutter, nas entrevistas que antecederam A Sangue Frio, um dos grandes marcos do jornalismo literário. E é desse livro que quero falar.

Na faculdade sempre recomendavam ler a obra-prima de Truman Capote. Por motivos bastante óbvios, é claro, mas não li A Sangue Frio como uma obrigação disciplinar. O livro caiu nas minhas mãos por acaso, emprestado por uma colega de estágio. Uma lástima, aliás, o livro ter sido um empréstimo, pois é daqueles extremamente necessários na biblioteca de casa. Principalmente se tu és jornalista. Para te inspirar. Para te ensinar. Para te fascinar. Porque foi isso que Capote fez comigo quando li A Sangue Frio.

O fato de ele ser uma história real, por si só, já me instiga. Amo histórias policiais, crimes, investigações. É um tipo de literatura que sempre gostei, apesar de ter lido muito pouco da Agatha Christie. Mas essa obra de Capote é muito mais que puramente um crime resolvido pela polícia ou um detetive: é um assassinato desvendado psicologicamente, como se o autor fosse mais do que uma testemunha ocular dos acontecimentos – e sim um deus onipresente e onisciente de tudo.

Uma pena que eu li por empréstimo. Não gosto de pegar livros emprestados porque gosto muito de ler e sublinhar e depois reler, inteiro ou por trechos. Mais: sou extremamente possessiva, gosto de tê-los meus. Para poder voltar a eles quando der saudades. E A Sangue Frio é um que tenho muita saudade, vontade de voltar àquele crime ocorrido em uma pequena fazenda no Kansas. É um livro que mostra como é um excelente repórter, um pesquisador eficaz que consegue perceber meandros da psicologia humana, narrando o que se passava na mente dos assassinos. Fantástico, interessante e imperdível. Um grande livro para ser devidamente devorado em poucas horas.

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